Fadiagem (em obras)

Fado, Sexo I Vacalhau - Trabalhadores do Comércio com um tema de Ian Dury

Donnerstag, 2. Juli 2009

O Bispo Negro e o Santo Graal

Alexandre Herculano narrou a seu jeito a história do bispo negro que resumirei aqui para apresentar a personagem principal da minha narrativa.
D. Afonso Henriques colocara a sua mãe a ferros e o papa exigiu a libertação imediata desta ou o Rei seria excomungado. Ora, D. Afonso não era homem de se intimidar e não soltou D. Teresa. O bispo fechou a Sé e abandonou a cidade. D. Afonso disse para o seu espadeiro Lourenço Viegas:
“-Dei a Coimbra um Bispo que me excomunga, porque assim o quis o papa: dar-lhe-ei outro que me absolva, porque assim o quero eu.” (Assim o escreveu Herculano).
E com este intento reuniu ele na Sé todos os clérigos sem excepção e escolheu de entre eles um novo bispo: Dom Çoleima, um negro.
Não estava, pois, Dom Çoleima refeito de tal aventura quando nos pertences privados do bispo anterior encontrou um esplendoroso cálice. Ainda que o utensílio resplandecesse de luz dourada, Dom Çoleima viu bem que não era ouro, mas sim latão. Uma repentina suspeita assaltou-o e movido por força estranha dirigiu-se à biblioteca em busca de algo que o pudesse ajudar a esclarecer a proveniência do objecto. Entre alfarrábios litúrgicos e tratados em latim descobriu o novo bispo um manuscrito sobre a lenda de Mondericon e a proveniência do cálice em causa.
As suas suspeitas pareceram-lhe correctas e portanto tinha que proteger a sagrada preciosidade... mas como? Se escrevesse ao papa e lhe narrasse as suas suspeitas, talvez o Vaticano assumisse a responsabilidade. Contudo, se ele estivesse enganado, após o que recentemente se passara em que ele como bispo recitara missa perante D. Afonso Henriques, seria bem possível que o papa não estivesse disposto a mais um desaire... Ainda seria excomungado e atirado para o cárcere.
Sem mais pensar, guardou o cálice e com meia dúzia pertences, na protecção da noite abalou de burro para Coimbrões, nos arredores de Viseu. Lá exercia um pároco que conhecera aquando do seu seminário que decerto o auxiliaria a resolver a situação.
Dom Soeiro recebeu eufórico o seu velho amigo ainda que conhecendo a história de Coimbra não conseguisse ocultar o seu concernimento. Çoleima não esteve com rodeios e mostrou-lhe o cálice.
Soeiro baqueou. Foi como se a respiração lhe faltasse e o coração perdesse as estribeiras e se lançasse em tropel desenfuriado.
-Tu crês?...
-Sim, D. Soeiro, eu creio que este é o Santo Graal.
-Mas como é que ele te foi parar às mãos?...
Esclarecido o que se podia esclarecer, acabou Dom Soeiro por dizer:
-Quando não sei que decidir costumo ir até Viseu, a Coração de Jesus. Lá rezo e faço penitência. Se mesmo assim não encontro solução para o meu caso, subo à Cava do Viriato e por lá passeio... Nunca fiquei sem resposta.
-Pois é para lá que irei.
Esta foi a última vez que se ouviu falar do bispo negro. A sua desaparição, depressa abafada pelas partes clericais, caíu rápida no esquecimento.
Há quem acredite que algures, na Cava, se encontra escondido o Santo Graal. Há quem acredite tambem que Çolaima regressou a Jerusalem com ele...

2 Kommentare:

  1. Estou cá para comigo que o sacerdote lhe tenha dado uma mésinha que o pós a dormir vendendo o cálice posteriormente aos franceses.;))

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  2. Isso poderá ser verdade se o Graal realmente se encontrar em França como alguns o julgam.
    Esta história vai ter uma discussão na antiga Clepsidra entre mim e um holandês a qual procurarei narrar... ;) logo que me dê para isso.

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