Fadiagem (em obras)

Fado, Sexo I Vacalhau - Trabalhadores do Comércio com um tema de Ian Dury

Freitag, 3. Juli 2009

Van Heerden, Rijki

Foi numa noite como outra qualquer das muitas em que na Clepsidra passei que conheci Rijki, de apelido Van Heerden, o qual eu decidi tratar pelo apelido porque a forma como ele o pronunciava me soava místico, interessante.

Heerden acabara o curso de arqueologia e encontrava-se num rail de férias pela Europa em busca de um local onde pudesse escavar qualquer vestígio que lhe permitisse escrever um trabalho de curso final. Eu pensei que ele precisasse duma tese para doutoramento ou coisa que o valha, mas ele afirmou não ser tese mas outra coisa qualquer que eu não soube entender. O seu português era nenhum e o meu holandês igual ao seu português. Com inglês e francês, e sobretudo com umas boas Super Bocks lá ficámos num paleio mais de diversão do que de científicos temas. Aliás, que raio poderia eu sobre arqueologia dizer? Os meus conhecimentos da existência de Conímbriga e da pressuposta Aeminium sob o Paço do Bispo (Museu Machado de Castro) não chegavam para sustentar qualquer conversa de teor arqueológico; no entanto, a minha paixão pelo teatro levou-me a aludir a “Comédia sobre as divisas da cidade de Coimbra” de Gil Vicente e no embalo acrescentar a história do bispo negro e santo graal.

Van Heerden levantou-se e foi até ao balcão, regressando pouco depois com mais duas cervejas.

-Essa história está muito mal contada. -disse ele oferecendo-me uma das garrafas.

-Eu sei... para mim, não se trata de confirmar a sua veracidade, mas sim, saber da existência de tal lenda...

-A lenda de dragões e leões que falam e salvam reinos tem que remontar a um tempo muito anterior ao nascimento de Cristo, portanto, o cálice nunca poderia ser o graal.

-Tens razão... excepto se o santo graal já existisse e Jesus o tivesse adquirido a algum comerciante ambulante e reparando que ele possuía poderes mágicos o tenha utilizado para o truque do vinho.

Van Heerden deixou as costas embaterem contra a parede e ficou imóvel, meditativo. Depois enrolou um cigarro.

Eu receei que ele começasse a pensar que o que eu lhe contava tivesse ponta de verdade e, maldoso, empolguei-me mais nas minha narrativa.

-O certo é que existiu um cálice, e desta feita, não é copo nenhum de pedras preciosas ornamentado, mas um vulgar recipiente de latão. Ninguem procurou fazer do objecto uma preciosidade. O que aliás, no caso de Jesus, só pode ser confirmado. O copo donde ele bebeu nunca poderá ter sido de ouro cravejado de jóias... ele tinha que ter uma aparência vulgar para não levantar quaisquer suspeitas.

-E esse cálice foi para Viseu?... -Ele enrolou um cigarro e ofereceu-mo. Eu aceitei acenando positivamente à sua pergunta.

Acendi o cigarro e por entre fumo comentei:

-De acordo com o padre Soeiro, o tal bispo negro terá ido com ele para a Cava de Viriato.

-E a Cava de Viriato tem a ver com os Lusitanos?...

-Ha quem diga que Viriato esteve lá, mas não há provas disso. Há quem afirme tambem que os romanos a fundaram, outros dizem terem sido os árabes... é assim, quando não se sabe a verdade...

Prosseguimos na beberagem sem muitas mais palavras. Van Heerden estava convencido que nesta história havia algo verdadeiro e no dia seguinte, apesar de ter dito querer ir comigo a Conímbriga, deixara uma notícia ao empregado da Clepsidra onde constava: “Desculpa, mas não posso resistir. Tenho que ir a Viseu.”

De lá recebi um postal dele. Endereçado a: (honras sejam feitas ao Carteiro Senhor Santos) Josee Faschaade Tovive do Meic 3000 Correbra; e duas semanas depois, um outro, desta feita, vindo de Jerusalem.

Depois disso nunca mais tive notícias...

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