Emigrante sem economia,
Sem sindicato nem contracto;
Sem outra bolsa
Que não um Livro em Branco.
Desço Reeperbahn à noite,
Rua Direita mais longa e mais brilhante.
Algures, no mistério das memórias
Que se mesclam nos néons da realidade
Há-de existir uma Democrática,
Um Museu, uma Diligência;
Enfim, uma Clepsidra.
Emigro de bar em bar,
Busco o meu fado num copo
Cujo fundo espelha a alma.
Tacteio as horas tão sózinhas...
Emigrante.
Hamburgo que me acolheu
Sem me perguntar o nome,
Vinga-se agora de mim
Por nele procurar Coimbra.
Ao reconhecer o meu erro,
Deixo de ser emigrante.
Faço-me lanterna de rua,
Banco de jardim,
Partícula carbónica cuspida
Por um navio no cais
E sou Hamburgo por inteiro.
Atraco então no bar
Que as trevas quase não deixam ver
E dou com um grupo punk
Na clandestinidade do tempo
Arrepiando guitarras e maltratando a bateria;
O vocalista berrando:
"A morte saíu à rua num dia assim..."
"A vida, amigo," pensei, "a vida..."
E voltei a ser emigrante.
Música: Álbum "Utopia" Janita Salomé e Vitorino em homenagem ao grande Zeca.
Livro: "Histórias do senhor Keuner" de Bertolt Brecht. (Caso haja uma edição portuguesa). Alternativa: "Criação do Mundo" do Miguel Torga
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